quinta-feira, 24 de março de 2011

UM OLHAR SOBRE A ILHA DE CUBA

Nossa cliente Carolina Pascoal, jornalista, acaba de retornar de Cuba e nos presenteou com esse belo texto e imagens!

Enjoy!

Era cedo em Havana. Cinco brasileiros, que mal se conheciam, acabavam de chegar no hotel em que ficariam hospedados. Enquanto três deles entraram no Tryp Habana Libre para fazer o check in, duas das garotas - que já se conheciam - ficam do lado de fora para fumar.

A guia que os aguardava notou que faltavam duas pessoas. “As meninas já vêm, estão fumando lá fora”, informaram. “Estamos em Cuba! Elas podem fumar aqui dentro”, avisa a orientadora cubana.


Estes foram os primeiros momentos da semana que passei em Cuba. E também a primeira diferença/estranheza por qual passei. Ao acender um cigarro em lugares fechados, os brasileiros olhavam ao redor, pareciam procurar algum fiscal da lei anti-fumo ou algum dono de estabelecimento estressado, que logo pediria para se desfazer do cigarro. Mas nada disso. Em Cuba, fuma-se (e muito) em lugares fechados. Seja no lobby do hotel, no restaurante ou na balada.


Nós, o grupo de brasileiros, passamos os sete dias na Ilha. Cada vez que fomos passados para trás - por algum local ou por passeios (furados) para turistas - nos aproximávamos mais. Fosse para reclamar, dar risada ou apenas para pedir mais um mojito. Afinal, em Cuba, sempre é hora para (mais um) mojito.

Se está chovendo: “Um mojito, por favor”

Se está sol: “Um mojito, por favor”

Se alguém do grupo está atrasado: “Um mojito, por favor”

Se está indo pra balada: “Um mojito, por favor”

Se vai pedir a saideira: “Um mojito, por favor”

E esta lista poderia se estender muito (MUITO) mais… É claro que existem as variações. A cerveja Bucanero e a piña colada também protagonizaram esta viagem.


Apesar das muitas baladas (ao som de rumba e salsa), não vou dizer que a noite cubana é das melhores. Algumas festas se salvaram por cenas de amigos tentando se aproximar das cubanas, das brasileiras fugindo dos cubanos (ou não!), por tentativas de danças e… um pouquinho de álcool, como não?!

Já durante a manhã e a tarde, a vida é fascinante para nós, turistas. A arquitetura das casas, os carros, os pontos turísticos, os restaurantes, tudo parece (e está) congelado no anos 1950. Mas também há seu lado triste. Em Havana, algumas abordagens feitas por cubanos podem desestruturar você. E mesmo com alguns cubanos explicando como a vida deles funcionam, é difícil de entender.


Um ator que conheci contou: “Ganho 15 CUC por mês”. (Lá a moeda é o Peso, mas o turista usa o peso convertido, chamado de CUC - que vale quase 1 dólar). Eu estranho, já que pagamos 5 CUC para entrar em algumas baladas e 2 CUC na cerveja. “E quanto você gasta com você?”, questiono. “O governo fornece comida, mas não é o suficiente. Logo, tenho despesas fixas de 200 CUC por mês, contando alimentação e o aluguel de onde moro”, responde. Sim, a conta parece estar errada. Mas logo ele explicaria que nenhum cubano vive do salário e que a renda deles vêm de bicos, muitos bicos. Alguns também têm a sorte de ter parentes em Miami que mandam dinheiro para ajudar.

Esta é apenas uma parte da realidade que comove. Outras situações que chocaram:

-Uma velhinha andava por Habana Vieja e, ao chegar perto dos turistas, a única coisa que pedia era “um caramelo, por favor”. Uma das meninas do nosso grupo tinha uma bala de caramelo. Mas só quem viu o sorriso e a reação vai entender o que aquela bala (insignificante e esquecida no fundo da bolsa) representou para àquela senhora.

-Agora, a locação era a entrada da fábrica de rum Legendários. Uma criança vem em nossa direção. O pedido? “Você tem material escolar para me dar?”.

-Em outra ocasião, saindo da mesma fábrica (com sacolas recheadas de rum e charuto) uma senhora pede alguma coisa, QUALQUER COISA. Na correria, dou 1 CUC para ela, que só agradece, mas não demonstra comoção. Em uma das mãos, eu segurava uma garrafa de água (que estava pela metade e quente). Entrego para a velhinha e, agora sim, ela parece ter recebido o melhor presente de sua vida.

-Os táxis em Cuba são aqueles carros bem antigos e apesar de terem taxímetro, não são usados pelos motoristas. Por isso, o ideal é sempre perguntar quanto custa ir do ponto X ao Y, prática que foi muitas vezes esquecidas por nós. Certa vez, pegamos um táxi para ir do hotel para a balada e não perguntamos o preço. Quando chegamos no destino fomos cobrados: “Deu 10 CUC”. Sabíamos que este não era o preço justo, mas pagamos. Na volta, perguntamos o valor antes. “Até o hotel de vocês? Dá 5 CUC”. Ok, pagamos o dobro na ida, mas percebe que o taxista poderia ter cobrado mais? Afinal, já tínhamos usado o serviço e somos turistas. Teríamos de pagar o que fosse, mas eles parecem ter medo ou não sabem trapassear. No Brasil, isso seria bem diferente…


-Não foram poucas as vezes que os cubanos - após de nos chamarem de “hermosas” e dizerem que adoram samba - nos falavam que “a única maneira de sair daqui é se eu casar com você”.

-Em um muro de Havana estava pintado “Viva Raul”. Ao conversar com um cubano, a resposta é direta: “Ou o pintor gosta do Raul ou o Raul pagou para que, aí sim, o pintor gostasse dele. Não é a opinião de todos…”.

-Durante uma festa na casa de um cubano, na região que apelidamos de Baixo Havana, um dos locais desabafa: “O ruim de conhecer pessoas legais, assim como vocês, é que se vocês não voltarem, nunca mais nos veremos. Não podemos sair daqui”.

-Alguns cubanos parecem viver com medo de algumas situações. Um grupo deles andava com a gente, mas alertaram: “Se alguém perguntar alguma coisa, vocês têm que dizer que somos amigos há muito tempo. Não podemos nos envolver com turistas…”

Depois de Havana, fomos para Varadero. Mas a passagem por lá foi mais tranquila, com climão de Caribe mesmo. Tanto que apelidamos o nosso hotel de Sesc Varadero - sem grandes contrastes.

Esses são apenas alguns dos episódios que me lembro. E decidi registrá-los aqui, porque não quero esquecê-los…


> E até a proxima viagem!
Para esses e outros destinos acesse: www.viaregiatur.com